quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O encontro



O frio interno de um âmago gélido confrontava com a baixa temperatura ambiente. Os passos tão seguros em ritmo constante faziam movimentar o sobretudo negro daquela figura que se misturava ao breu de uma viela estreita e deserta. Já não mais temia o perigo, sabia que a face da morte se mantém oculta para aqueles que desejam encontrá-la. Deixava no caminho o rastro de cinzas e fumaça dispersas pelo vento a cada vez que tocava o cigarro, sentia o frio tocar a carne mas não o sentia dentro de si.
A perspicácia materializada em olhos que absorviam com riqueza de detalhes tudo que seria despercebido a qualquer outra pessoa era tão intensa quanto a velocidade de seus pensamentos. A noite era para ele algo familiar e intrínseco a sua identidade, cumplíces e leais compartilhavam atos insanos, secretos e perigosos. Não era bem o que poderíamos chamar de um sujeito misterioso, o ar de arrogância denunciava bem mais que isso, tratava-se de um homem convicto de seus propósitos e da eficácia de sua sagacidade. Geralmente não panejava o que ia fazer, mas sempre conseguia manipular as situações a seu favor. Desafiava mentes para satisfazer as inquietações obscuras da sua. E os passos rompiam o silêncio cada vez que a bota tocava o chão, a rua deserta e escura parecia não ter fim. Uma parada inesperada, um encontro intrigante. Então o cigarro quase que totalmente acabado aumenta a velocidade a medida que se aproxima do calçamento, sua chama é interrompida pelo pisar preciso do fumante que surpeendido sorri maliciosamente com os olhos em brasa. Mal sabia que aquele momento seria o marco inicial de eventos que fugiriam de seu controle.

Nenhum comentário:

Postar um comentário