sábado, 7 de agosto de 2010

Uma prévia

As sombrancelhas sinuosas contornavam um olhar obscuro. Doces trevas presas em contornos perfeitos, adornados por longos cílios de movimentos delicados. O aroma de lavanda do quarto sempre escuro expandia-se juntamente com a fumaça que emanava dos incensos, tornando o ambiente ainda mais místico, enigmático.
Lençois quase tão aveludados quanto a pele recebiam com êxtase um corpo leve de belas proporções cuja sombra se projetava engenhosamente na parede. A luz de duas velas faziam movimentos graciosos naquela figura humanamente surreal. Meia taça de vinho em um criado mudo rústico denunciava o hálito suave de lábios que raramente pronunciavam alguma palavra.
O silêncio era o espectador e cúmplice da mente inquieta de alguém que não fazia sentido. A escultura de uma bruxa parecia fitar a jovem harpista na meia luz de seu quarto púrpura, mas não era o único elemento de decoração exótico ali. Telas inacabadas, livros velhos sistematicamente organizados e borboletas de madeira acima da cabeceira da cama.
Almofadas num tom de esmeralda contrastando com o edredom beringela. A tinta fresca de uma das telas exibia uma pintura recentemente feita: borboletas coloridas sobrevoando um poço fixado no centro de uma floresta boreal sombria e gélida.

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