segunda-feira, 24 de maio de 2010

Orgulho : um convite á solidão


Talvez o orgulho seja um sentimento tão intrínseco ao ser humano e gerador de tantos conflitos ao longo da história das civilizações, que lhes foi conferido um espaço na lista dos sete pecados capitais.

Do ponto de vista teológico o orgulho desestablizou o céu antes mesmo da criação do homem, tornando-se assim a origem do pecado no lar celestial . O primeiro sentimento pecaminoso a nascer no coração de um ser perfeito que desejou ser igual ao seu criador.

Associado a soberba, o orgulho é um sentimento desencadeador de atitudes egoístas. Nos causa uma falsa sensação de soberania e auto- suficiência. Petrifica e torna gélida a alma. Limita nossas emoções, boicota o sentimento altruísta que poderia desenvolver-se em cada um de nós.

Não me refiro a orgulho como sinônimo de apreço ao sucesso do outro ou de auto-estima . Falo de ''egocentrismo'', que nos isola socialmente, que aprisiona a alma dentro do corpo, que manipula nossa mente para nos convencer que isso é amor próprio.

O orgulho nos posiciona diariamente em um campo de batalha com as pessoas de nosso convívio. E nessa guerra temos que vencer sempre.Mas não há vencedores, apenas vencidos. Há falsas conquistas, com falsas medalhas.

Com o passar do tempo e com algumas medalhas no pescoço, percebemos que estamos sozinhos, perdidos em uma floresta sombria. Porque o orgulho é mais que uma demostração de arrogâcia é um convite a solidão!!!





sexta-feira, 21 de maio de 2010




A hora do cansaço

As coisas que amamos
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade

Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.

Começam a esmaecer quando nos cansamos,
E todos nos cansamos, por um ou outro intinerário
de respirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa á condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.

Do sonho de eterno fica este gosto ocre
na boca, sei lá, talvez no ar.

Carlos Drummond de Andrade



Drummond consegue sintetizar sabiamente em ''A hora do cansaço'' todos os elementos característicos do âmago humano em suas relações afetivas . A entrega, a intensidade, a euforia e o ápice das emoçoes que se consolidam quando atribuimos ao outro o status de imortal.
E até mesmo o cansaço. Qual cansaço ?

'' E todos nos cansamos, por um ou outro intinerário.''

Abrindo um parênteses nesse verso, me proponho a questionar os fatores que estimulam o cansaço . Somos de ímpeto motivados a crer que o cansaço é sinônimo de desinteresse. Não é uma hipótese descartada, como Drummond mesmo disse :''todos nos cansamos por um ou outro intinerário''

Contudo posiciono meu olhar para outro tipo de cansaço . O esgotamento e a exaustão da alma em face da insensibilidade do objeto amado em perceber-se imperecível.


As pessoas que emolduramos com granito e eternizamos dentro de nosso limite são aquelas que um dia fingirão dormir ao telefone durante uma conversa, que nem levantarão para te cumprimentar quando você for visitá-las, que mudarão de assunto quando você precisar falar o que sente, que duvidarão de sua conduta moral, que te rotulararão quando mais necessitar de um abraço.


Não são as falhas daqueles que julgamos imortais que nos esgota, mas a falta de tato, de percepção e de sensibilidade para absorver em nossos olhos o quanto são especiais.


Esses fatores acima citados desgastam, entediam, cansam e causam fadiga na alma. ''Já não desejamos que sejam imperecíveis. ''


Restituindo cada humano a sua condição de mortal . Cansei também Drummond !!!

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Eleita

Acho mais elegante que a primeira postagem seja uma breve explicação da existência do blog. Na verdade esse blog foi resgatado. E a mesma descrição de outrora será mantida e a partir dela escreverei meu primeiro post : Alguém que escreve enquanto todos dormem.
Por que escrever ? O que escrever ? Para quem escrever ? E por que esperar que todos durmam?







Na verdade não se escreve por necessidade, ou você nasce escritor ou morre sem escrever um verso. Seja qual for o seu gênero - que posteriormente descobrirá- logo na infância será movido por uma força superior que provêm da alma e que só aumentará com o passar dos anos.

Perceberás que os seus sentidos são mais aguçados, que a maneira de enxergar as coisas é diferente, que existe uma cor indefinida, um sabor que o paladar desconhece, um perfume que não se encontra na natureza, sons que só você ouve e sentimentos que que ainda não tem definição .

Estarás sujeito a própria magia. Coisa de alma. Muitas vezes estranhará suas atitudes, crerá que foi movido pela razão ou pelo coração. Bobagem ! Coisa de alma . Sentirá uma solidão , que não é especificamente falta de alguém, talvez o excesso de alguém ainda te faça sentir-se sozinho. É uma solidão tão particular , tão profunda e necessária, tão tenra e voraz. Coisa de alma.


Algumas vezes desejará apenas sonhar, principalmente de olhos abertos. Desejará não dormir nunca mais. Outras vezes dormirá para não correr o risco de sonhar de novo. Buscará sempre uma resposta para perguntas que ainda nem existem .


E diante de tudo isso , de maneira genuina perceberás que escreveu bastante mesmo sem motivo aparente.
Como coloquei no Twitter : ''Não escrevo movida por uma razão específica, basta que a alma transborde de si mesmo para projetar-se em outros espaços.

Escreverás com tintas, com imagens, gestos, voz, olhares , com caneta, não importa a maneira como ela se manifestará, se você nasceu escritor sua alma se propagará em você .
Um escritor convicto aprende com o tempo que não se escreve para alguém, mas por alguém . O principal leitor é você mesmo. Você é ao mesmo tempo criador e criatura . Juíz e réu . Protagonista e coadjuvante. Terás seus prórpios anseios, desejos, uma infinidades de sentimentos complexos e mesmo com a pena na mão não conseguirá definir nada.


A minha alma elegeu a noite. Sempre foi a noite que atraiu meus sentidos . Não há o que explicar. Coisa de alma não se questiona. O silêncio dos que dormem, a escuridão que muitos temem, a magia do céu e seus astros, a poesia da madrugada. Minha alma escolheu porque sou poetisa. Escrevo com olhos, com toques, com a essência de meu ser. Não é a razão nem o coração que me rege, é a minha alma. Alma intrínseca a meu ''eu''desde quando ainda nem tinha coração. Sou intensa. Como observaram alguns : 8 ou 80 .


Poetisa da madrugada, não por opção, mas porque fui eleita!!!