sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Pintura
Impossível te desenhar
Inúmeras são tuas formas
Múltiplas tuas cores
Diversos os sabores
Para quem experimentar
O mago, o velho, o menino
Lord, caçador, peregrino
Tua figura é subliminar
Te revelas apenas rabiscos
O esucuro esboça alguns riscos
Da face que insistes em ocultar
As marcas te fazem veterano
Cético, divino e profano
No limite do meu enxergar
A palavra é teu escudo e espada
A sagacidade a tua aliada
No combate, no duelar
Persuadir é tua proeza
Complementa com requinte a beleza
Do homem que ouso pintar

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

´´Quis escrever algo belo, mas as lágrimas foram mais rápidas. Precipitadas falaram por mim quando dizer tudo não significava nada. Esboçaram meu gráfico perfeito, traços precisos de minha alma, disseram mais que o previsto de um ser em constante conflito.´´

terça-feira, 12 de outubro de 2010

O segredo



Parece que não mudei muito, pelo menos no que se refere a coordenação motora. É o que dizem. Tive uma infância feliz como toda criança deveria ter. Assistia o programa da Xuxa, sim eu gostava de ver todo aquele ritual dela descendo da nave, do bom dia e claro dos desenhos. Brincava de casinha, amarelinha, dominó, abc, mandraque, pique-esconde, matança, polícia e ladrão, sete cacos, caiu no poço, minigame, pular corda, bambolê, gude, pega- pega. E quando as brincadeiras convencionais e saudáveis já não satisfaziam, lá estava eu na laje da casa, escalando as paredes , subindo nas árvores e garantindo as palmadas sagradas de todo dia ( não, não era todo dia) pelas aventuras de spider girl.

Tantas recordações cômicas e felizes de uma época onde preocupação não existia. E quando havia era apenas o medo de ficar de recuperação . E modéstia parte sempre fui boa aluna, tanto porque queria a tão sonhada bicicleta no fim do ano, como pela imagem assustadora da mão pesada de meu pai diante de uma suposta reprovação . Mas independente disso, eu realmente gostava de estudar e de fazer meus pai s sentirem orgulho de mim.

Minha rotina diária era mais que perfeita. Ter que escolher entre Xuxa e Angélica o maior dilema. Esperar a sessão da tarde para assistir Os goonies a maior ansiedade. Jiraya morrer? O maior medo. Isso sem falar que o drácula morava atrás da minha casa. Fato! Eu o via, sério. E não somente eu, meu primo Diego também via. E não éramos usuários de drogas. No crepúsculo, nós subíamos no muro e ficávamos esperando ele aparecer. Até que construiram casas e nosso contato visual com o nosferato ficou ameaçada. Lamentável.

Eu tinha um mundo á parte, não que isso tenha mudado após alguns anos, continuo com um universo particular, mas aquele mundo era especial.( Será que sou autista? )Principalmente porque ele tinha o tom e o sabor que eu lhe dava. As crianças são simples. Elas administram melhor a suas vidas do que os adultos somente porque elas não tem medo de ser o que desejam . Os risos, as críticas, os olhares de reprovação não as intimida. Elas conseguem ser felizes na simplicidade, mesmo sem ter consiência do que é ser feliz.

E hoje procuramos fórmulas em terapias, dinheiro e status social para sermos completos. Mas na verdade o segredo foi apenas esquecido, já nos foi revelado. Ele continua guardado em algum lugar que deixamos ao longo dos anos.

E eu tenho que confessar, não é só a coordenação motora a único vestígio que sobrou da minha infância, continuo com um hábito que não consigo desprender dele apesar dos anos: a curiosidade aguçada para ver as pessoas além do que os olhos físicos são capazes de alcançar. Não sou a mulher bionica. Eu sou poetisa. Sempre foi assim, sempre enxerguei com os outros sentidos, quando só olhar não bastava. Cada um tem o seu dom decoberto na infância, porque é justamente nesse período que nos permitimos ser tudo aquilo que desejamos.





sábado, 9 de outubro de 2010

Que o silêncio seja mais
Que a palavra for capaz
De me tocar
Se orgulho satisfaz
Eu rejeito a tua paz
Ousa-me, desafiar

Eu vou arrancar essa ironia dos teus olhos
Eu vou desfazer esse sorriso do seu rosto
Dá-me tua fúria, me provoca que eu provo
Como gosto do teu gosto
Eu vou adentrar essa loucura que te toma
Me apossar e te fazer sair do coma
Não tenho medo de tuas trevas que me leva
Ás profundezas desse drama


Te rastreio no escuro
Teus segredos tão desnudos
Quero inflamar
Me perder em teu bioma, invadir tua entranha

Deixa eu te desafiar





quarta-feira, 6 de outubro de 2010


Percebe-se o fim desde o princípio
Poque o início caminha para um desfecho
Assim como o pretérito foi presente
Tudo que surge um dia finda
Adia-se ao máximo a despedida
Cogita-se formas de ludibria-la
Aumentando o tempo com vazios
Eternizando minutos e segundos
A angústia de quem não quer perder
Funde-se com a certeza do adeus
Sem saber que ele é tão vil e cruel
Que sorrateiramente deixa a ausência
Como um sinal daquele que partiu






sábado, 2 de outubro de 2010

Metamorfose


Me fecho, me escondo

Me cerco, me afasto

Dos outros, do todo

De mim, de meus atos

A margem do mundo

O mundo no quarto

Pensando no escuro

De mim, eu me farto

Trocando de pele

Mudando o sabor

Insípida, inodora

Invisível, incolor

Rompendo os poros

Da alma que inflama

Renovo-me, renasço

Quieta sob as chamas










quinta-feira, 30 de setembro de 2010






O outro lado de mim é aquele que dificilmente mostraria a alguém. É um lugar onde habita a escuridão e chove água salgada.


quarta-feira, 29 de setembro de 2010


Desperdício



Em vão se luta
Em batalhas vencidas
E o cansaço
Ignorando as feridas
Resiste bravamente

Aniquilando a covardia
O guerreiro não se entrega
Anseia morte digna
Porque o viver é a luta
As cicatrizes o destino
E o trófeu de sangue
Jaz neste peregrino









sábado, 25 de setembro de 2010



Insônia




Um pouco de café
A vista turva ,embaçada,
A barba por fazer
É madrugada
Nem sabe o quer
Apenas sente o desejo
Acende o cigarro
Esquece os beijos
Entre elas e os papos
Os retratos e os tratos
Nas trevas de um quarto
Onde oculta os fatos
E tudo entedia
Entre lapsos de mémoria
Me chama, me toma
Muda a história
Burla o orgulho, engana o sono
Fecha os olhos e sente
Me esconde, me guarda
Só para si ele mente











sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Sufocada


O grito implode
A fala cala
Entre os destroços
Caminho descalça
Desprotegida
Traumatizada
Contemplo o caos
De uma fúria contida
Palavras reprimidas
Reduzidas a nada
Gravemente ferido
O orgulho agoniza
Sentimentos dizimados
O silêncio no vácuo
As vielas em mim
Todas elas destruidas




quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Meu coração tem um dom. Sim, vários, para falar a verdade. Mas ele é especialista na área de pregar peças. Bem humorado, para não dizer : palhaço. Faz da minha mente um picadeiro. Cheio da gracinha, como quem não quer nada e está só de passagem, vai ganhando espaço e se apoderando de tal forma que se sente em casa. Folgado e espaçoso, confunde tudo, mexe no que não deveria, muda a ordem das coisas . Faz uma bagunça!!!
E as piadas então? Ele é tão convincente, tão astuto e cênico. Parece se divertir com a minha cabeça. Faz gracejos, rir á toa, não se cansa. Confunde tudo. Tem dias que desafia a mente em duelos dolorosos e longos. Fico exausta. Repreendo -o tantas vezes como se um dia ele fosse compreender que o seu jeito machuca. Que suas trapalhadas são inconsequentes e que as vezes os espectadores sorriem somente para não ter que desapontá-lo.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

É o teu fôlego que interessa
Não tenho pressa
Em roubá-lo
E tomá-lo
Num ato de posse
Te fazer presa
É o teu fôlego que eu sondo
E o que propronho
Não seria trégua
Nem entrega
Mas um duelo de insitntos
De olhare famintos
É o teu fôlego
Que eu quero sentir
E assim possuir
Aquilo que me pertence
A tua luta, teu desafio
Rejeito tua paz
A tua fúria é o meu brio




sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Homicidas


Já morri inúmeras vezes. Se fosse contabilizar ( considerando toda a minha existência), iria precisar de muito tempo. Engana-se quem em suas conjecturas, pressupõe que só há uma forma de falecer. A morte não é apenas o fim da matéria. Todos os dias morremos. Diariamente somos atingidos de maneira fatal por olhares furiosos, tristonhos, opacos, frios, indiferentes. E como mísseis precisos atingem a alma.

Algumas outras vezes, são as palavras que corroem com o pior dos ácidos: o desprezo. Abraços negados e sentimentos rejeitados como lâminas dilaceram o âmago. Todos os dias morremos. Quer seja homicídio ou suicídio. Sim, suicídio. Também ingerimos gotas letais de nosso próprio veneno. Com orgulho exarcebado e arrogância desmedida nos autofalgelamos. Todos os dias matamos.

E o curioso é que tememos perecer como se esse fenômeno fosse incomum, desconhecido. Ignoramos o fato de que o '' deixar de respirar'' faz parte da vida e fingimos não saber que é contra a natureza da alma ferir outras almas . Lamentamos o adeus eterno com tanto pesar que chega a ser ironico. Pois cotidianamente matamos o que há de mais belo nas pessoas: a essência.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Inaudível



Todo discurso é inútil. Toda a fala é vã. Quem profere palavras anseia que elas toquem com a mesma intensidade dos sentimentos que as produziram. Quem as recebe, seleciona o que lhe parece relevante e despreza o que aparenta não ter significado algum.

E no desejo desesperado de se expressar dizemos implicitamente : ''me ouça, me olhe, me toque, me sinta''. Mas é como se tudo fosse inaudível ao outro. A comunicação acontece parcialmente, as tentativas frustadas nos remete á monólogos, sem espectadores.

Daí, recorremos a outros meios de extravasar. Creio eu que por esse motivo foram criados os diários, os livros e os blogs. Para que ao nos recolhermos em nossa insignificância aparente, pudéssemos falar a nós mesmos, que somos nossos melhores receptores.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Precoce


O meu olhar era de admiração, de encantamento. Era isso mesmo. Encanto! Por razões que eu não saberia explicar contemplei aquele rosto minuciosamente. Fiquei alguns minutos paralisada, não conseguia assimilar os acontecimentos. Estava em uma festa, mas outra festa acontecia simultâneamente , dentro de mim.

A ingenuidade do que sentia era compatível com a inocência dele. Era noite. Poderia ser mais perfeito? A mémoria apenas reforça agora o que sempre tive convicção: a escuridão noturna me rege. Eu não queria nada, nem que ele me visse , nem que me conhecesse. Desejava apenas observá-lo e dessa maneira já era perfeito demais.

Recordo- me da música que celebrou nosso encontro. Aliás, eu o encontrei, ele nunca me encontrou . Tomei posse da sua existência naquele momento. Uma vida que passou a me pertencer eternamente. Menino alvo de cabelos negros, que ao som de uma melodia nada apropriada, uma vez que falava do Senegal, nem ao menos sabe que foi protagonista de um evento lindo

Hoje, 23 anos depois, onde estará ele? Qual será o seu nome? Não importa. Ele estava lá, na hora certa, no lugar certo para ser o primeiro amor de uma garotinha de 4 anos.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Alma poética




Minha alma é minha terra
Onde posso descansar
Rimando amores e dores
Vivo a me deleitar
Colhendo estrelas de olhares
Fazendo de sorrisos as flores
Componho assim o meu mundo
Com várias fragrâncias e sabores
Em cismar- sozinha escrevo-
Com rimas, versos e poesia
Nas noites e madrugadas
No ápice da nostalgia
Minha alma é minha terra
Onde posso me encontrar
Lá estão todos os sonhos
Que se pode imaginar
Até mesmo o impossível
Pode se concretizar
Nãao permita Deus que eu viva
Se não puder desfrutar
A magia em cada vida
O encanto em cada olhar
Se lágrimas regarem a alma
Inda assim, escolho amar

Parafraseando Canção do Exílio de Gonçaves Dias



quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Quando te apresentarem o amor, o respeito e a consideração de uma amizade, não tente interpretar. A distração te fará perder a poesia e a legitimidade da demosntração. Apenas receba e deleite-se, raras são as ocasiões em que afetos sinceros são sentidos, vividos ou expostos.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Confetes e Lágrimas

Pinto o sorriso no rosto
Apesar do desgosto
A alma vaidosa
Tal qual dama formosa
Veste-se de poesia
Simula falsa alegria
Faz a festa acontecer
Próximo ao amanhecer
Abandona o disfarce
E lágrimas tocam a face

domingo, 29 de agosto de 2010

O presente
Fechava os olhos, mentalizava o pedido e soprava a vela com entusiasmo. Para falar a verdade, a pressão do momento juntamente com a escolha de apenas um desejo dentre tantos me atrapalhava. E como era de se esperar de uma criança, os brinquedos prevaleciam. A tão sonhada bicicleta ocupava posição de previlégio na escala de prioridades. Nunca me senti frustrada com a espera, porque no íntimo eu sabia que a ganharia. Acreditava piamente que sonhar era uma maneira de olhar o objeto de desejo mais de perto. Mesmo sendo uma criança comum, o mundo material não me fascinava. Sim, queria presentes. Mas não me entristecia com a falta deles.

Vinte seis vezes soprei as velinhas e a cada ano mais complexo ficava decidir o que desejar. Era mais simples ser criança e ficar dividida entre bonecas e bikes. A maturidade nos exige mais precisão, objetividade. E as prioridades não são mais tão ingênuas. Mas minha lista ficava cada vez mais abstrata e subjetiva com o passar do tempo. Muitas vezes achei que poderia ser mais ousada, mais ambiciosa. E tudo que não era palpável resistia e permanecia na listinha.

Prestes a repetir o ritual , não sei exatamente que presente seria perfeito nesse momento. Na dúvida fico com o mais significativo : Sentir a cada dia que estou cumprindo o que me foi destinado : tocar vidas de alguma maneira. Com minhass palavras, com meus atos ou simplesmente com meu olhar.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Sem as cicatrizes não haveria lembrança do toque...



Sofro de um mal crônico. A verdade é que nunca procurei um profissional especializado . Talves porque no íntimo não desejo curar-me de tal enfermidade. É um mal que faz bem. Ou seria um bem que me faz mal? Por ser de natureza côngenita, está em mim, intrínseca a meu corpo, ao meu todo. E imaginar-me sem tal mazela é o mesmo que cogitar viver isenta de minha identidade. Nem mesmo a intimidade com o que é inato me torna hábil para administrar os períodos de crise. As vezes eu ignoro a intuição e subestimo os paleativos. E como uma criança mimada, recuso as doses com cara feia.Desejo que os sintomas me consumam de maneira nova, anseio ser surpreendida em meio ao que é tão familiar. E a cada manifestação, diferentes são as sensações no corpo e na alma. Absorver vidas e tomá-las para si é uma enfermidade rara. Poucos conseguem conviver com ela uma vez que as marcas ocasionadas pelo toque de cada vida são profundas. E até cicatrizarem (quando cicatrizam) , passam por um processo dolorido. Talves seja um mal crônico porque assim idealizo. Não por mazoquismo como supõem alguns, mas pela magia e mistério que há nas vidas que absorvo e toco. Recuso a cura, eu quero sentir meu âmago encarar e roçar outros âmagos . Não me importa as cicatrizes, sem elas nunca lembraria das vidas que alcancei.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Vidas
Que se olham e flertam
Que se espreitam
Se cruzam e se tocam
E trocam
O fôlego, o gosto
Se afagam e repelem-se
Misturam-se e se afastam
Alinhar ao centroVidas que se buscam e se prendem
Se esgotam, desfalecem
E perecem

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O frio daquelas terras durante as tríplice lua era quase insuportável. O vento em meio a escuridão movimentava as madeixas púrpuras e longas que ora cobriam, ora mostravam cálidos olhos . Era o encontro de dois predadores. Um deles tão astucioso em sua capacidade de atrair a presa, tinha a vantagem da perspicácia ser intrínseca a sua natureza devoradora. Enquanto o outro tornou-se predador, aprendeu em sua peregrinação a desenvolver bem a percepção, algo necessário a sua sobrevivência. Não nasceu predador, ou melhor predadora, pois tratava-se de uma ''Thaira'', dama mística das florestas sombrias. Tais criaturas não possuiam poderes mágicos, viviam para servir ao seu povo com a doçura de suas almas. Anic era o seu nome, e sua aparência frágil e delicada ocultava a grandeza de sua força.
Em uma madrugada de três luas, colocou a sua tunica e descalça caminhou por entre os limites de sua terra, movida por uma intuição que chegava a causar-lhe mal estar. Sentiu uma força abruptmente lançar-lhe contra uma árvore sagrada da floresta. Ao abrir os olhos depois de tal movimento inesperado percebeu que a tão poucos centímetros de seu corpo encontrava-se um inimigo tenebroso. Porém, aquela dama mística percebeu que tal ser nefasto sangrava através de um talho no peito. Desejou curar a ferida, não poderia agir de maneira contrária a sua natureza, embora em sua peregrinação tenha se tornado uma guerreira, conhecendo todos os perigos de ignorar a percepção.
Alguns silenciosos minutos se passaram enquanto as almas tão opostas se tocavam com os olhos. Então, o ser obscuro baixou o capuz de Anic e observou com certa admiração a cor púrpura de seus cabelos longos, as formas de um corpo pequeno e leve. Anic não temia, apenas observava o sangue escorrer por entre o peito daquele estranho. Ela sabia que precisava matá-lo ou seria ela quem morreria brevemente. Mas o sangue que jovarrava lhe hipinotizava. Era uma ''Thaira'', uma serva e como tal tirou de suas vestes um líquido verde em um recipiente pequeno e molhou a ferida aberta . Ali mesmo, exposta ao frio e a escuridão a criatura obscura ao sentir o toque das mãos daquela dama esquentar-lhe a ferida, aproximou-se o bastante para que as faces quase se tocassem. Passou a mão pelo pescoço de Anic e sintiu o amuleto que ela sempre carregava consigo. E pelo cordão que segurava a pedra mística a puxou para mais perto de si e os lábios inimigos se tocaram delicadamente. E por alguns segundos permaneceram quietos, até que o calor de ambos os lábios foi gradativamente aumentando e cedendo lugar a movimentos sincronizados, harmoniosos. Como se a jovem serva tivesse entrado em transe profundo, acordara sob a luz da primeira lua daquela terra onde não havia o dia. E imediatamente sentira falta de seu amuleto. Sentiu uma fúria crescer dentro de si e sentimentos desconhecidos a impulsionaram a agir racionalmente. Havia lembrado de tudo, havia sido lesada, ludibriada, subestimada. E imediatamente ultrapassou os limites de sua terra seguindo o rastro de quem desejava derramar o sangue. Na terceira lua , depois de muito caminhar, avistou uma figura que embora só tivesse visto uma vez lembrava cada detalhe de seu aspecto. A criatura sombria virou-se , novamente os olhos em chamas se encontraram. O ser nefasto aproximou-se da pequena Thaira com seu poder de persuasão e sagacidade de predador, a envolveu em seus braços não desviando os seus olhos dos dela. Anic retirou de dentro de suas vestes uma espada para intimidar o inimigo que por sua vez usou a ponta do instrumento para abrir novamente o talho no peito fazendo-o sangrar. Mais uma vez Anic sentia-se atraída por aquela fonte de sangue a jorrar, baixou o braço levemente, o suficiente para a criatura nefasta aproximar-se de sua face. Com tal movimento a jovem de cabelos púrpura reconhecera o seu amuleto juntamente com muitos outros no pescoço daquele que tão próximo ficava. Era o encontro de dois predadores, um por natureza outro por ocasião. E assim, com faces tão próximas, que os lábios quase se tocaramm quando Anic cravou sua espada no peito daquele em quem confiara. Sua túnica era banhada pelo sangue de seu inimigo que aos poucos encontrava o chão daquele lugar que desconhecia o dia. Anic contrariou sua natureza, feriu mortalmente o ser obscuro. Sabia ter feito o necessário, mas desejava ter optado pelo contrário. E em meio as contradições de sua alma, guardou a espada, ajoelhou-se próximo ao corpo e sentiu através de uma lembrança que em tais lábios que agora estavam frios, haviam o poder de neutralizar quem os tocasse. Lábios carmesim que foram molhados não mais pela saliva daquela, mas pelas lágrimas que brotaram de seus olhos. Naquele momento aquele ser místico da floresta conhecera pela primeira vez as águas estranhas que os olhos escondem .

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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O encontro



O frio interno de um âmago gélido confrontava com a baixa temperatura ambiente. Os passos tão seguros em ritmo constante faziam movimentar o sobretudo negro daquela figura que se misturava ao breu de uma viela estreita e deserta. Já não mais temia o perigo, sabia que a face da morte se mantém oculta para aqueles que desejam encontrá-la. Deixava no caminho o rastro de cinzas e fumaça dispersas pelo vento a cada vez que tocava o cigarro, sentia o frio tocar a carne mas não o sentia dentro de si.
A perspicácia materializada em olhos que absorviam com riqueza de detalhes tudo que seria despercebido a qualquer outra pessoa era tão intensa quanto a velocidade de seus pensamentos. A noite era para ele algo familiar e intrínseco a sua identidade, cumplíces e leais compartilhavam atos insanos, secretos e perigosos. Não era bem o que poderíamos chamar de um sujeito misterioso, o ar de arrogância denunciava bem mais que isso, tratava-se de um homem convicto de seus propósitos e da eficácia de sua sagacidade. Geralmente não panejava o que ia fazer, mas sempre conseguia manipular as situações a seu favor. Desafiava mentes para satisfazer as inquietações obscuras da sua. E os passos rompiam o silêncio cada vez que a bota tocava o chão, a rua deserta e escura parecia não ter fim. Uma parada inesperada, um encontro intrigante. Então o cigarro quase que totalmente acabado aumenta a velocidade a medida que se aproxima do calçamento, sua chama é interrompida pelo pisar preciso do fumante que surpeendido sorri maliciosamente com os olhos em brasa. Mal sabia que aquele momento seria o marco inicial de eventos que fugiriam de seu controle.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Realça os contornos
Disfarça imperfeições
Ludibria quem vê
Não engana quem se pinta

Prefiro a face limpa, natural , desprovida de qualquer pintura. Sem realces, sem disfarces. Certas verdades nos são apresentadas assim como uma bela face , que de bela só a superficie retocada com muita pintura que oculta os verdadeiros traços. Engana-se quem supõe que verdades precisam de retoque para serem expostas. Verdade só tem essa conotoação porque trata-se da exposição dos fatos como eles são sem qualquer vestígio ou tentativa de justificá-los ou amenizá-los. Adultos gostam de ser tratados como tal. É totalmente desnecessário e de péssimo gosto agir com as pessoas como se fossem criança. Como se tivessem algum retardo mental e não fossem capaz de digerir ou aceitar uma perda ou uma realidade. Equivoca-se quem pensa que todos são incapazes de enxergar e discernir entre uma situação real e uma realidade enfeitada. Chega de imaginar que para aproximar-se do outro ou conseguir o que queremos precisamos camuflar as intenções, porque ainda exitem mentes perspicazes, percepitivas, sagazes. Sou a favor do papo reto, fale quem você é e o que você quer e deixe que eu decida se vale a pena. Mas não me arme circo para depois dizer que o palhaço não tem graça. Não preciso de espetáculos para ceder o que quero fazer de vontade própria. A propósito, detesto circo .




sábado, 7 de agosto de 2010

Uma prévia

As sombrancelhas sinuosas contornavam um olhar obscuro. Doces trevas presas em contornos perfeitos, adornados por longos cílios de movimentos delicados. O aroma de lavanda do quarto sempre escuro expandia-se juntamente com a fumaça que emanava dos incensos, tornando o ambiente ainda mais místico, enigmático.
Lençois quase tão aveludados quanto a pele recebiam com êxtase um corpo leve de belas proporções cuja sombra se projetava engenhosamente na parede. A luz de duas velas faziam movimentos graciosos naquela figura humanamente surreal. Meia taça de vinho em um criado mudo rústico denunciava o hálito suave de lábios que raramente pronunciavam alguma palavra.
O silêncio era o espectador e cúmplice da mente inquieta de alguém que não fazia sentido. A escultura de uma bruxa parecia fitar a jovem harpista na meia luz de seu quarto púrpura, mas não era o único elemento de decoração exótico ali. Telas inacabadas, livros velhos sistematicamente organizados e borboletas de madeira acima da cabeceira da cama.
Almofadas num tom de esmeralda contrastando com o edredom beringela. A tinta fresca de uma das telas exibia uma pintura recentemente feita: borboletas coloridas sobrevoando um poço fixado no centro de uma floresta boreal sombria e gélida.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Anjo Banido



Estranha dor quem és tu?
Cicatrizes de uma intrega insana?
Não fere a carne, atinge a alma
Outrora diviana agora profana


Incompleto, indefinido, imperfeito
Sentimento estranho, desconhecido
Asas explorando a liberdade
Do trono perfeito, anjo banido


As alvas vestes adornando um corpo
Cuja a alma, a imortalidade perdeu
Traindo a si, ultrapassou os limites
E a tal epcado , de bom grado cedeu


domingo, 1 de agosto de 2010

Cárcere


Tua bobagem
Não supera a imagem
Da paisagem
Da miragem
Do sorriso que me ofertas
Tua impaciência
Não ofusca a inocência
A decência
É uma referência
Dos ideais que me apresentas
Nem a tua ira
Ludibria a saudade
A ausência
É a sentença
Do teu julgo irrevogável
Que cruelmente aprisiona

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Peregrina

Em transe constante
Pescadora de sonhos
Entre suspiros e murmúrios
Colhendo sorrisos, flores e pedras
Viajante solitária
Poetisando vidas, tocando almas
Com versos livres em meio ao acaso
Seguindo olhares e emoções
Escreve o próprio destino
Delirante , prossegue compondo
Um mundo a parte do mundo
Calejando pés, alma e coração
Fazendo da utopia a sua razão
Colecionando descasos, abraços e afagos
Vivendo seu sonho de ser o que já não sabe
Caminha sempre rumo á solidão

quarta-feira, 28 de julho de 2010

InEficiente



Irracional, irreversível, impulsivo
Ansioso, ocioso, corajoso
Inconsequente, deficiente
Coração disléxico
Hiperativo, cego e surdo
Nem trabalha direito , nem repara os defeitos

sábado, 24 de julho de 2010

Beijos na chuva
E choveu naquela hora
Dois estranhos, uma boca
O primeiro e o último encontro
A noite, o rio, o momento
Corpos e bocas molhadas
Línguas mornas sem palavras
O vento testemunha
Estranhas vidas, íntimos beijos
E a água celebra o início e o fim de tudo
Intervalo entre opostos
Resumido em lábios

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Lado a Lado

Amigo homem
Amigo bicho
Amigo bobo
Amigo louco
Amigo ingrato
Amigo pacato
Amigo calado
Amiga estressado
Amigo ausente
Amigo presente
Amigo tenro
Amigo tenso
Amigo amável
Amigo estimável
Amigo solidário
Amigo solitário
Amigo tristonho
Amigo risonho
Amigo furioso
Amigo genioso
Amigo discreto
Amigo secreto
Amigo distante
Amigo tolerante
Amigo criança
Amigo de infância
Amigo delicado
Amigo dedicado
Amigo real
Amigo virtual
Amigo amigo

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Trajetória


Passos que foram desviados
De uma trajetória rotineira
Instintos despertados
Maliciosamente envolvidos
Em uma disputa desleal
Desafiando sempre a razão

Lançou-se por escolha no abismo
Percurso em trevas
Buraco negro, infinito
Experimentando sensações
De um destino indefinido


domingo, 18 de julho de 2010

O infinito não é o limite
mas o início de algo que desconhecemos



Existe um mundo além daquele que os olhos são fisicamente capazes de alcansar. Paradgmas, dogmas, estereótipos que a sociedade apresenta como ideal não são vias seguras que conduzem a verdade absoluta. A postura crítica do indivíduo frente ao mundo é o combustível que proporciona a mudança. O conhecimento é o combustível que liberta o sujeito das trevas da ignorância.

Reproduzir comportamentos não só é irracional como um retrocesso do processo de evolução interior. É subestimar o próprio potêncial, é abrir mão do ''devir social'', é colocar nas mãos dos outros o direito de pensar .

Ver além do que parece ser não é um dom é uma atitude. Alguns limitam a visão e privam-se assim de construir uma verdade particular, uma identidade. Ignoram o fato de que não precisam de parâmetros ou modelos pre-definidos, porque a sabedoria é ilimitada.