segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Confetes e Lágrimas

Pinto o sorriso no rosto
Apesar do desgosto
A alma vaidosa
Tal qual dama formosa
Veste-se de poesia
Simula falsa alegria
Faz a festa acontecer
Próximo ao amanhecer
Abandona o disfarce
E lágrimas tocam a face

domingo, 29 de agosto de 2010

O presente
Fechava os olhos, mentalizava o pedido e soprava a vela com entusiasmo. Para falar a verdade, a pressão do momento juntamente com a escolha de apenas um desejo dentre tantos me atrapalhava. E como era de se esperar de uma criança, os brinquedos prevaleciam. A tão sonhada bicicleta ocupava posição de previlégio na escala de prioridades. Nunca me senti frustrada com a espera, porque no íntimo eu sabia que a ganharia. Acreditava piamente que sonhar era uma maneira de olhar o objeto de desejo mais de perto. Mesmo sendo uma criança comum, o mundo material não me fascinava. Sim, queria presentes. Mas não me entristecia com a falta deles.

Vinte seis vezes soprei as velinhas e a cada ano mais complexo ficava decidir o que desejar. Era mais simples ser criança e ficar dividida entre bonecas e bikes. A maturidade nos exige mais precisão, objetividade. E as prioridades não são mais tão ingênuas. Mas minha lista ficava cada vez mais abstrata e subjetiva com o passar do tempo. Muitas vezes achei que poderia ser mais ousada, mais ambiciosa. E tudo que não era palpável resistia e permanecia na listinha.

Prestes a repetir o ritual , não sei exatamente que presente seria perfeito nesse momento. Na dúvida fico com o mais significativo : Sentir a cada dia que estou cumprindo o que me foi destinado : tocar vidas de alguma maneira. Com minhass palavras, com meus atos ou simplesmente com meu olhar.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Sem as cicatrizes não haveria lembrança do toque...



Sofro de um mal crônico. A verdade é que nunca procurei um profissional especializado . Talves porque no íntimo não desejo curar-me de tal enfermidade. É um mal que faz bem. Ou seria um bem que me faz mal? Por ser de natureza côngenita, está em mim, intrínseca a meu corpo, ao meu todo. E imaginar-me sem tal mazela é o mesmo que cogitar viver isenta de minha identidade. Nem mesmo a intimidade com o que é inato me torna hábil para administrar os períodos de crise. As vezes eu ignoro a intuição e subestimo os paleativos. E como uma criança mimada, recuso as doses com cara feia.Desejo que os sintomas me consumam de maneira nova, anseio ser surpreendida em meio ao que é tão familiar. E a cada manifestação, diferentes são as sensações no corpo e na alma. Absorver vidas e tomá-las para si é uma enfermidade rara. Poucos conseguem conviver com ela uma vez que as marcas ocasionadas pelo toque de cada vida são profundas. E até cicatrizarem (quando cicatrizam) , passam por um processo dolorido. Talves seja um mal crônico porque assim idealizo. Não por mazoquismo como supõem alguns, mas pela magia e mistério que há nas vidas que absorvo e toco. Recuso a cura, eu quero sentir meu âmago encarar e roçar outros âmagos . Não me importa as cicatrizes, sem elas nunca lembraria das vidas que alcancei.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Vidas
Que se olham e flertam
Que se espreitam
Se cruzam e se tocam
E trocam
O fôlego, o gosto
Se afagam e repelem-se
Misturam-se e se afastam
Alinhar ao centroVidas que se buscam e se prendem
Se esgotam, desfalecem
E perecem

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O frio daquelas terras durante as tríplice lua era quase insuportável. O vento em meio a escuridão movimentava as madeixas púrpuras e longas que ora cobriam, ora mostravam cálidos olhos . Era o encontro de dois predadores. Um deles tão astucioso em sua capacidade de atrair a presa, tinha a vantagem da perspicácia ser intrínseca a sua natureza devoradora. Enquanto o outro tornou-se predador, aprendeu em sua peregrinação a desenvolver bem a percepção, algo necessário a sua sobrevivência. Não nasceu predador, ou melhor predadora, pois tratava-se de uma ''Thaira'', dama mística das florestas sombrias. Tais criaturas não possuiam poderes mágicos, viviam para servir ao seu povo com a doçura de suas almas. Anic era o seu nome, e sua aparência frágil e delicada ocultava a grandeza de sua força.
Em uma madrugada de três luas, colocou a sua tunica e descalça caminhou por entre os limites de sua terra, movida por uma intuição que chegava a causar-lhe mal estar. Sentiu uma força abruptmente lançar-lhe contra uma árvore sagrada da floresta. Ao abrir os olhos depois de tal movimento inesperado percebeu que a tão poucos centímetros de seu corpo encontrava-se um inimigo tenebroso. Porém, aquela dama mística percebeu que tal ser nefasto sangrava através de um talho no peito. Desejou curar a ferida, não poderia agir de maneira contrária a sua natureza, embora em sua peregrinação tenha se tornado uma guerreira, conhecendo todos os perigos de ignorar a percepção.
Alguns silenciosos minutos se passaram enquanto as almas tão opostas se tocavam com os olhos. Então, o ser obscuro baixou o capuz de Anic e observou com certa admiração a cor púrpura de seus cabelos longos, as formas de um corpo pequeno e leve. Anic não temia, apenas observava o sangue escorrer por entre o peito daquele estranho. Ela sabia que precisava matá-lo ou seria ela quem morreria brevemente. Mas o sangue que jovarrava lhe hipinotizava. Era uma ''Thaira'', uma serva e como tal tirou de suas vestes um líquido verde em um recipiente pequeno e molhou a ferida aberta . Ali mesmo, exposta ao frio e a escuridão a criatura obscura ao sentir o toque das mãos daquela dama esquentar-lhe a ferida, aproximou-se o bastante para que as faces quase se tocassem. Passou a mão pelo pescoço de Anic e sintiu o amuleto que ela sempre carregava consigo. E pelo cordão que segurava a pedra mística a puxou para mais perto de si e os lábios inimigos se tocaram delicadamente. E por alguns segundos permaneceram quietos, até que o calor de ambos os lábios foi gradativamente aumentando e cedendo lugar a movimentos sincronizados, harmoniosos. Como se a jovem serva tivesse entrado em transe profundo, acordara sob a luz da primeira lua daquela terra onde não havia o dia. E imediatamente sentira falta de seu amuleto. Sentiu uma fúria crescer dentro de si e sentimentos desconhecidos a impulsionaram a agir racionalmente. Havia lembrado de tudo, havia sido lesada, ludibriada, subestimada. E imediatamente ultrapassou os limites de sua terra seguindo o rastro de quem desejava derramar o sangue. Na terceira lua , depois de muito caminhar, avistou uma figura que embora só tivesse visto uma vez lembrava cada detalhe de seu aspecto. A criatura sombria virou-se , novamente os olhos em chamas se encontraram. O ser nefasto aproximou-se da pequena Thaira com seu poder de persuasão e sagacidade de predador, a envolveu em seus braços não desviando os seus olhos dos dela. Anic retirou de dentro de suas vestes uma espada para intimidar o inimigo que por sua vez usou a ponta do instrumento para abrir novamente o talho no peito fazendo-o sangrar. Mais uma vez Anic sentia-se atraída por aquela fonte de sangue a jorrar, baixou o braço levemente, o suficiente para a criatura nefasta aproximar-se de sua face. Com tal movimento a jovem de cabelos púrpura reconhecera o seu amuleto juntamente com muitos outros no pescoço daquele que tão próximo ficava. Era o encontro de dois predadores, um por natureza outro por ocasião. E assim, com faces tão próximas, que os lábios quase se tocaramm quando Anic cravou sua espada no peito daquele em quem confiara. Sua túnica era banhada pelo sangue de seu inimigo que aos poucos encontrava o chão daquele lugar que desconhecia o dia. Anic contrariou sua natureza, feriu mortalmente o ser obscuro. Sabia ter feito o necessário, mas desejava ter optado pelo contrário. E em meio as contradições de sua alma, guardou a espada, ajoelhou-se próximo ao corpo e sentiu através de uma lembrança que em tais lábios que agora estavam frios, haviam o poder de neutralizar quem os tocasse. Lábios carmesim que foram molhados não mais pela saliva daquela, mas pelas lágrimas que brotaram de seus olhos. Naquele momento aquele ser místico da floresta conhecera pela primeira vez as águas estranhas que os olhos escondem .

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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O encontro



O frio interno de um âmago gélido confrontava com a baixa temperatura ambiente. Os passos tão seguros em ritmo constante faziam movimentar o sobretudo negro daquela figura que se misturava ao breu de uma viela estreita e deserta. Já não mais temia o perigo, sabia que a face da morte se mantém oculta para aqueles que desejam encontrá-la. Deixava no caminho o rastro de cinzas e fumaça dispersas pelo vento a cada vez que tocava o cigarro, sentia o frio tocar a carne mas não o sentia dentro de si.
A perspicácia materializada em olhos que absorviam com riqueza de detalhes tudo que seria despercebido a qualquer outra pessoa era tão intensa quanto a velocidade de seus pensamentos. A noite era para ele algo familiar e intrínseco a sua identidade, cumplíces e leais compartilhavam atos insanos, secretos e perigosos. Não era bem o que poderíamos chamar de um sujeito misterioso, o ar de arrogância denunciava bem mais que isso, tratava-se de um homem convicto de seus propósitos e da eficácia de sua sagacidade. Geralmente não panejava o que ia fazer, mas sempre conseguia manipular as situações a seu favor. Desafiava mentes para satisfazer as inquietações obscuras da sua. E os passos rompiam o silêncio cada vez que a bota tocava o chão, a rua deserta e escura parecia não ter fim. Uma parada inesperada, um encontro intrigante. Então o cigarro quase que totalmente acabado aumenta a velocidade a medida que se aproxima do calçamento, sua chama é interrompida pelo pisar preciso do fumante que surpeendido sorri maliciosamente com os olhos em brasa. Mal sabia que aquele momento seria o marco inicial de eventos que fugiriam de seu controle.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Realça os contornos
Disfarça imperfeições
Ludibria quem vê
Não engana quem se pinta

Prefiro a face limpa, natural , desprovida de qualquer pintura. Sem realces, sem disfarces. Certas verdades nos são apresentadas assim como uma bela face , que de bela só a superficie retocada com muita pintura que oculta os verdadeiros traços. Engana-se quem supõe que verdades precisam de retoque para serem expostas. Verdade só tem essa conotoação porque trata-se da exposição dos fatos como eles são sem qualquer vestígio ou tentativa de justificá-los ou amenizá-los. Adultos gostam de ser tratados como tal. É totalmente desnecessário e de péssimo gosto agir com as pessoas como se fossem criança. Como se tivessem algum retardo mental e não fossem capaz de digerir ou aceitar uma perda ou uma realidade. Equivoca-se quem pensa que todos são incapazes de enxergar e discernir entre uma situação real e uma realidade enfeitada. Chega de imaginar que para aproximar-se do outro ou conseguir o que queremos precisamos camuflar as intenções, porque ainda exitem mentes perspicazes, percepitivas, sagazes. Sou a favor do papo reto, fale quem você é e o que você quer e deixe que eu decida se vale a pena. Mas não me arme circo para depois dizer que o palhaço não tem graça. Não preciso de espetáculos para ceder o que quero fazer de vontade própria. A propósito, detesto circo .




sábado, 7 de agosto de 2010

Uma prévia

As sombrancelhas sinuosas contornavam um olhar obscuro. Doces trevas presas em contornos perfeitos, adornados por longos cílios de movimentos delicados. O aroma de lavanda do quarto sempre escuro expandia-se juntamente com a fumaça que emanava dos incensos, tornando o ambiente ainda mais místico, enigmático.
Lençois quase tão aveludados quanto a pele recebiam com êxtase um corpo leve de belas proporções cuja sombra se projetava engenhosamente na parede. A luz de duas velas faziam movimentos graciosos naquela figura humanamente surreal. Meia taça de vinho em um criado mudo rústico denunciava o hálito suave de lábios que raramente pronunciavam alguma palavra.
O silêncio era o espectador e cúmplice da mente inquieta de alguém que não fazia sentido. A escultura de uma bruxa parecia fitar a jovem harpista na meia luz de seu quarto púrpura, mas não era o único elemento de decoração exótico ali. Telas inacabadas, livros velhos sistematicamente organizados e borboletas de madeira acima da cabeceira da cama.
Almofadas num tom de esmeralda contrastando com o edredom beringela. A tinta fresca de uma das telas exibia uma pintura recentemente feita: borboletas coloridas sobrevoando um poço fixado no centro de uma floresta boreal sombria e gélida.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Anjo Banido



Estranha dor quem és tu?
Cicatrizes de uma intrega insana?
Não fere a carne, atinge a alma
Outrora diviana agora profana


Incompleto, indefinido, imperfeito
Sentimento estranho, desconhecido
Asas explorando a liberdade
Do trono perfeito, anjo banido


As alvas vestes adornando um corpo
Cuja a alma, a imortalidade perdeu
Traindo a si, ultrapassou os limites
E a tal epcado , de bom grado cedeu


domingo, 1 de agosto de 2010

Cárcere


Tua bobagem
Não supera a imagem
Da paisagem
Da miragem
Do sorriso que me ofertas
Tua impaciência
Não ofusca a inocência
A decência
É uma referência
Dos ideais que me apresentas
Nem a tua ira
Ludibria a saudade
A ausência
É a sentença
Do teu julgo irrevogável
Que cruelmente aprisiona