quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Pretexto
O amor que nos apresentam é um pretexto para se conjugar o verbo pertencer. Amar é renunciar a posse, porque a liberdade do outro é o princípio de quem ama. E aquele que ama é um voluntário na restauração de almas. Viajante solitário, que trafega entre vidas, priorizando o ''ser'' em detrimento ao ''ter''. Na verdade o amante é um admirador de borboletas, não um colecionador. Alguém que tece seu amâgo com fragmentos de sorrisos, porque estes serão as lembranças mais significativas das vidas que tocou. Aquele que vive o amor transforma lágrimas em estrelas, porque sabe que a saudade é só um artifício do coração para estar mais perto daqueles que partiram.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Sombras noturnas

Majestosa abriga os perdidos
Que em vielas caminham descalços
Celebra a dor dos contritos
Acolhe quem perde os passos
Acalma os olhos sofridos
Conduz a incerteza aos atos
Redime e liberta os aflitos
Com a poesia dos fatos
Tece asas para os contidos
Rompe a corrente dos fracos
Dizima o medo, cicatriza o ferido
Envolve o oculto em seus laços




sábado, 22 de janeiro de 2011

Retalhos de uma boneca



Inanimada. Esquecida em um canto qualquer do teu mundo. As cores de meu tecido não mais te alegram e os meus olhos já não atraem os abraços cálidos que antes de dormir me davas. Fui o travesseiro que abrigou os sonhos mais simples e ousados que faziam vibrar o teu coração. Não me ausentei, nem memso na tua ira, mantive-me quieta sob a escuridão de teu quarto, observando-te com paciência, aguardando ficar branda a tua alma. Fui os ouvidos fiéis das pronúncias tuas e algumas lágrimas de teu âmago molharam a minha roupa. Como era belo o teu sorriso, os teus gracejos e ataques repentinos de saudade. Saudade do conforto de meu algodão, das minhas costuras. As vezes me apertava de maneira tão voraz que me confundia, não sabia ao certo se era a tua maneira rude de falar que precisava de mim ou se era apenas carência de um alguém que não conseguia lidar com as próprias emoções.


Eu desejei falar, sair da inércia de minhas limitações, mas me mantive estática, conhecer os teus detalhes me satisfazia. Meus sentimentos eram invisíveis, contidos, escusos. Fiz-me tua, tua companhia, tua boneca, teu anjo, teu refúgio. Quis te tocar, mas era você que me tocava. Eu era apenas um depósito de teu ser implícito. Vi a tua verdadeira face, aquela que somente a mim poderia mostrar. Me controlei infinitas vezes para não ultrapassar os limites de minha condição.


Ensinaste-me a ser humana, teus atos rasgaram meu pano fazendo com que de um amontoado de tecidos surgissem labaredas. A porcelana do meu rosto ruborizou ao tocar tua pele quente . Ser de carne era uma maneira perigosa e ntensa de viver. A ingenuidade de minha essência se mesclava a esse novo mundo, o universo de tuas sombras e divindade. Experimentei a sensação de sair da embalagem, de ser acalentada, provada, tentada. Adormecestes em meus braços e eu me abriguei nos teus mesmo quando tua cama estava vazia.


Hoje não reconheço o lugar onde me deixastes, não é mais familiar, talvez nem seja seguro. Não tem o perfume de teu quarto nem a maciez de teu lençol . Não consigo mais ouvir os teus passos, nem os sorrisos sarcásticos. Nem sinto a tua respiração se aproximar. Não sabia aonde estava me levando, mas confiei piamente em teus pés. E de súbito tuas mãos soltaram as minhas. Nenhuma palavra, nenhum toque, nenhum olhar. Apenas te vi partir e sem alarde recebi uma rajada de sensações tão estranhas e incomuns. Não compreendi ainda se fui tão inútil, tão sem valor, ou se ser uma boneca sua entediou teu instinto versátil.


Não reconheço o lugar, nem ousei sair de onde me deixaste. As vezes fica escuro e neva. Meus nobres tecidos viraram retalhos. Passará algum tempo até que esses rasgos que expõe meu algodão se fechem, sejam costurados. Enquanto isso , eu silenciosamente espero surgir o calor da luz que secará a lágrima que escorre do rosto cada vez que espero uma única demontração de qeu em algum instante daquele tempo eu fui alguém e não algo.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Habito em mim





A sensação que tenho é de que eu não me encaixo em nada nesse mundo. Sou inapropriada para a época, para o estilo de vida contemporâneo, para o momento. Não me encontro, não me sinto um elemento pertinente a esse conjunto. Meu mundo não é esse paupável, superficial, frívolo, fulgaz. Eu moro dentro de mim, resido em minhas emoções. Rejeito ser parte dessa esfera gélida que abriga a indeferença humana . Valores medidos, pesados e julgados pelo status social e por esteriótipos pré-estabelecidos. Os interesses individuais acima do coletivo, do bem comum, as relações afetivas cada vez mais frágeis devido ao egoísmo operante são o cenário do hoje.
Não é o erro dos indíviduos que os torna medíocres, mas a persintência em manterem-se pequenos de alma. É estranho ver pessoas sorrindo da dor alheia, menosprezando os oprimidos, os marginalizados. É igualmente estranho ver a superficialidade dos sentimentos superar a grandeza dos atos. O que nos impede de enxergar as entrelinhas do outro? Aquilo que não foi proferido, mas que os olhos denunciaram? É preciso entender que pessoas não são objetos de nosso uso pessoal. Mas que são seres dotados de sentimentos que podem ser profundamente machucados. As vezes de maneira irreversível.
Não sou parte de um mundo preconceituoso, cuja hipocrisia é a regente da sociedade. Recuso habitar em um espaço permeado de arrogância, discriminação e descaso.
Deixe-me aqui no meu lar, dentro de minhas poesias, onde tudo faz sentido e onde tudo que é sentido tem valor. Quero viver e perecer nesse universo paralelo, que na verdade é o real. Porque o verdadeiro mundo é aquele que acolhe, que abraça. Sei que me rotularão, me julgarão e sim, me esquecerão. Mas eu, prefiro ficar do lado de dentro, que é mais cálido, intenso e verossímel.










quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Redenção

Culpada por cada gota
Que molha a saudade
Remendos da alma
Cada pedaço, um erro
Ou um acerto incerto
Matei, desejei, morri
Provoquei o caos
Desses sentimentos
Que agora se mesclam
Desejar,trair, sofrer
Culpa e egoísmo
Esses retalhos de mim
Queimam, ferem, dizimam
Prova de fogo
Caminho para a redenção

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A primeira do ano

A vida é um evento lindo que poucos sabem apreciar. O encontro de almas é mágico, vidas que se tocam independente do espaço geográfico, do contato físic. Bailando mutuamente, absorvem uma da outra as suas cores, os sabores e acima de tudo se doam para o mesmo fim. Corações que pulsam descompassado porque agora sabem que não são mais estranhos um para o outro. É a poesia do encontro, do encontro de almas, é o feitiço mais belo, mais intenso e mais poderoso. É o beijo de âmagos, é o abraço de espíritos que se cruzaram. Perceber essa magia é ter o dom de ser sensível ao que o mundo ignora.