quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Minha mãe diz que foi coisa de criança. Eu discordo. Acredito que a questão é bem mais delicada e profunda do que uma simples traquinagem infantil. Essa é uma história sobre pedras, identidade e resistência.


Eu quase fiquei careca há dois anos atrás. Foi quando percebi que era preciso romper com o mundo para realmente ser livre. Enquanto  as mechas de cabelo caiam aos montes no chão do banheiro ,  decidi fazer das pedras -aquelas velhas e malditas pedras-  um tumulo para enterrar  a mulher que  jamais seria. 

Não era só meu corpo reagindo a agressão, era minha consciência também. O espelho e  as fotos que me envaideciam , na verdade  enganavam. Nenhum deles refletiam o que eu realmente era, mas o que me disseram para ser.  Não se tratava de vaidade , mas de negação. 

  Nada de cabeleireiro! Cansada de tentar amenizar os estragos nas madeixas, cortei  o cabelo bem curto e fui pra faculdade. Eliminei a química que fragilizava os fios e conquistei a alforria.   Era o fim de uma história e o começo de outra. 

Poderia dizer que o processo de negação de minha real identidade como mulher negra começou no colégio quando era apelidada de  cabelo de espanta Jesus. (A propósito acho que Valfredo merece os créditos pela criatividade. )  Mas não foi. As raízes são bem mais profundas e a escola é só um reflexo da pressão social. 

As lembranças mais fortes que tenho da infância na rua são motivo de surpresa para as poucas pessoas que conhecem a  história. E justamente pela reação que causa aos que sabem que resolvi escrever sobre essa época. Parece inconcebível para alguns que algo do gênero tenha acontecido em um país como o nosso, no início do século XXI. Lamento se vou destruir a ilusão de alguns. 


No início eram 3 crianças/adolescentes - brancos e de classe média-  depois o grupo aumentou. . Eu e minha irmã voltávamos para casa numa tarde de domingo com o carvão para o churrasco. E de repente começaram  a nos atingir com pedras. Pedras ! O saco pesado dificultou que corrêssemos mais rápido. Um deles ainda era criança e estava com uma baladeira. Só pararam depois que entramos em casa. A única coisa que disseram durante  a agressão foi : Negrinha !

Infelizmente esse seria o primeiro dos muitos dias de perseguição. Cada um com seu método bizarro de provocar . Uns participavam ativamente, outros só observavam.  Parecia a revolta da elite branca por  na rua morar uma família fora do padrão.  Eles, filhos de pessoas públicas  da sociedade petrolinense,  não se contentavam em nos barrar e lançar pedras sempre que passávamos.  E o discurso deles era repetitivo : negrinhas !


Quando não esperavam a gente passar na rua,   se aproximavam . De cima da laje de suas residências gritavam ofensas e abaixavam as calças. O mais  atrevido chegou a entrar no quintal da minha casa para gritar a ladainha de sempre : negrinhas !  Para o azar do rapazinho da turma, meu pai flagrou um dos dias de invasão e daí por diante tudo começou a melhorar. Voltamos a sair de casa sem medo.

Seria mais aliviante dizer que merecemos. Talvez mais aceitável pensar que quase todas as crianças  e adolescentes da rua nos odiava por um motívo plausível. Mas nunca conversamos, eles nem sequer sabiam nossos nomes, nunca fomos amigos, nunca discutimos, nunca nos conhecemos. Havia um abismo estre nós  e tudo se resumia a nossa cor. 

Não precisei fazer terapia por causa disso, nem minhas irmãs. Nunca estive  em um psicólogo. Sem dramas continuei seguindo minha vida como uma garota normal. Mas se ilude quem pensa que episódios como esse não afetam a formação da identidade de alguém. Não estou afirmando que não tenho boas memórias da infância e adolescência . Tenho imensas saudades da época do colégio, dos amigos, de tudo que vivi.  O objetivo aqui não é vitimizar , mas  mostrar as raízes da negação da identidade negra. 

O  racismo,( que por sinal ,uma grande maioria  das pessoas afirma não existir ou ser uma invenção)  estava em todos os lugares : na escola, na igreja, na faculdade, na família e na televisão . "você não penteou o cabelo hoje? " seu pai só é preto, mas é gente boa", "aff que tranças horríveis, fulana acabou com o cabelo", " trancinha é coisa do demônio", " não vou sair no sol não que estou ficando preto", Chico é um nego da alma branca, " "é negra, mas é bonita", " tinha que ser negro mesmo". Fora da rua as pedras tinham vários formatos e cores. 

A sociedade convence que é preciso se enquadrar nos padrões impostos.  As mensagens são bem claras e ninguém quer ser excluído. Daí começa a agressão  ao corpo. Modifica-se cabelo, nariz, e tudo que incomoda para satisfazer não um desejo individual, mas coletivo e insano de homogenização. Por que será que as pessoas não estão felizes e satisfeitas com o que são ? Porque existe pessoas como a  gestora que impediu o pequeno Lucas de  8 anos de ser matriculado na escola por causa do seu cabelo Black Power. 


Não é fantasia ! É realidade. É isso que me preocupa. Se a escola deveria  formar cidadãos politizados












domingo, 14 de julho de 2013

Esse bicho
Que exala odores
De fétido hálito
É  podridão
Vomita impropérios
E regurgita injúrias

Esse bicho
De músculo pútreo
Devora sobras
Ingere imundícies
Mastiga excrementos
Arrota detritos

Esse bicho
De úlceras gangrenadas
É carne decomposta
Rumina ácidos
Que corroem os tecidos
E dilaceram a língua

Esse bicho
Que abriga vermes
Nutre micróbios
Larvas e insetos
Residentes que habitam
O pútrido coração

Esse bicho
De ossos ressequidos
Saliva escárnios
Cospe esconjuros
Expira veneno
Contamina, extermina

Esse bicho
Cadáver, moribundo
Carniça da carniça
Entre corvos e abutres
Carcaça faminta
É matéria morta

Esse bicho
Desprezível criatura
Coberta de chagas
Eczemas, edemas
É alma leproza
Se banha em dejetos
Escória animal

sábado, 25 de maio de 2013

                                                                     Afogado


Aquelas últimas gotas de chuva molharam o travesseiro e inundaram o quarto. Não era como a garoa suave que caia na rua. Era tempestade !

O sorriso que enfeitou de carmesim a esperança quase morta, convidou a insensatez para uma dança suicida.

E no deserto do salão havia sangue percorrendo as notas musicais. Havia também o aroma gostoso da noite testemunhando o gélido toque.

Os passos incertos e apressados do desejo tentando equilibrar-se nas falhas do caminho, colocou-se na ponta da razão e abraçou a loucura.

E abriu-se uma cratera profunda entre os olhares com o impacto da música proibida. As borboletas entraram de uma só vez na alma, formando o panapaná do sentir.

No palco vazio o sorriso decidiu morrer. Sucumbiu a morte, esqueceu a esperança. Apagou a cor dos lábios. Fez nos olhos chover e na tempestade resolveu se afogar.


Poetisa Insana


                                                                       Delírio


Por entre  a  persiana, o sol invadiu o quarto e alcançou o rosto bonito do moço que dormia. Fez uma careta engraçada de quem teve um sonho interrompido. De fato não queria acordar. Que estranho! Teve a impressão de que ouvira passos leves e rápidos se distanciando. 


Bocejou lentamente como se não tivesse pretensões de sair do abraço macio daquele edredom. Virou para o outro lado e apertou o travesseiro com uma preguiça que chegou a ser charmosa.

Passou a mão nos cabelos bagunçados enquanto tentava decifrar o objeto que estava no criado mudo. Um pequeno  livro de capa grossa com  aspecto envelhecido. Parecia na verdade, uma antiguidade. Sorriu e imaginou que ainda estivesse sonhando.


A figura que seus lábios formaram com aquele sorriso silencioso era simplesmente convidativa. Os lábios tão bem delineados, num tom rosa perfeito, estavam mais corados do que de costume.

Percebeu depois de alguns minutos com os olhos fechados, um aroma diferente nos lençóis. Não era muito bom em distinguir fragrâncias, mas tinha certeza que era cheiro de lavanda. Mas como podia ser? Não era esse seu perfume!


Virou-se imediatamente para o lado oposto e viu uma taça de vinho no outro criado mudo,  entre o despertador e a luminária. Tudo estava muito confuso, porque  ele não tomava esse tipo de bebida e nem tinha recebido visitas na noite anterior.

Passou a mão no rosto tentando arrancar da memória algum sinal do que aquilo significava. Sentou por instantes na cama de onde viu um vestido vermelho no chão próximo ao banheiro. Então levantou de súbito  em direção aquela veste. Ao tocar o tecido, sentiu a sua maciez e irresistivelmente levou ao rosto. O mesmo cheiro de lavanda invadira suas narinas. 


E como encanto fora tomado por lembranças. De repente as paredes fizeram-se pinturas como se estivesse em uma galeria de arte. Cada parte daquele lugar assemelhava-se a Caravaggios.

No jogo de luz e sombras a figura de uma mulher se destacava e eu corpo despido tocado por outro protagonizava uma cena inebriante de entrega absoluta. Ao observar isto, quase pode sentir as unhas daquela dama cravadas na sua nuca. Na boca a saliva transformara-se em vinho. 


Os olhos continuaram  a percorrer as imagens seguintes fazendo toda a pele ficar ouriçada. Os lábios carmesim da misteriosa mulher, lhe provocavam sede. Queria arrancá-la daquela tela e desafiar o seu lhar provocador num duelo.

Desejou sair do cenário barroco para transitar no surrealismo. Pensou em fogo. Ficou em brasa. Ardeu em chamas. Virou o rosto, mas não conseguia temer o tremor de suas carnes. Se não fosse sonho, certamente era loucura, pensara.


Mas os vestígios ali presentes lhe contradiziam. Dirigiu-se ao banheiro, lavou o rosto e tentou evocar inutilmente os indícios de que aquilo era definitivamente sonho. No espelho pode ver desenhada na alva pele de seu peito o percurso lúdico de unhas. Marcas de dentes ornamentavam seu pescoço de cima a baixo.

E um misto de sensações lhe possuiu. O diálogo entre os sentidos, a dança de lavanda com as imagens, o sabor do vinho e o calor de seu corpo embriagavam-no.


Voltou para a cama com todas aquelas cenas a sua volta. Atordoado, atormentado, possuído. Ela estava ali. Sim ! A porta estava entreaberta. Lembrou-se de ter ouvido passos ao acordar. Procurou-a. Precisava tocá-la. Senti-la, tê-la.Alcançou a taça de vinho e avistou a marca de batom ,  um  vestígio de quem ali esteve. Resolveu abrir o pequeno livro ao Aldo da cama.  Na verdade, parecia mais um diário antigo. Nas folhas amareladas, com uma caligrafia escrita  á pena, versos insanos instigantes e convidativos. Cada poema lido fazia-o perder um pouco o fôlego. 


Ofegante e extasiado, quase sucumbiu a loucura. Leu nas últimas linhas daquelas folhas envelhecidas a assinatura : Desejo !
















quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013


Os eleitos 




Não sei como funciona essa mágica que faz as vidas se encontrarem, mas quem está no comando certamente manda muito bem e deve ser tipo um Dumbledore. Incrível como fica sempre impregnado em nós o perfume de quem passou, como um indício, um vestígio de que somos a soma dos corações que tivemos o privilégio de saber que existem, de saber que tipo  de música produzem ao baterem.
Essas marcas invisíveis que cada alma deixa uma na outra é tão sutilmente tatuada que muitos nem percebem o quanto são constituídos  dos inúmeros toques trocados ao longo da vida com seus semelhantes.


O que os místicos costumam chamar de destino e os céticos definem como acaso, eu prefiro pensar que é poesia. Há tanta gente no mundo e tantas possibilidades de encontro, mas por alguma razão especial que foge a compreensão, a vida nos apresenta os eleitos, (que pode ser tanto o vizinho como alguém que mora no outro lado do mundo. )


E parece que cada encontro é uma rima. É fantástico, como uma colcha de retalhos bordada por olhares, gestos e palavras. Todos deixam perfume, mas alguns são versos tão belos! Conseguem ser sensíveis, encantadores, gentis, inteligentes e ainda possuidores de um sorriso lindo. E como é lindo saber que há pessoas assim - estando ou não ao alcance do nosso abraço.


Esses nos alcançam sem esforço físico porque vão direto na nossa alma. Esses nos despertam esperança na humanidade, porque mantém o amor pela família, a consideração pelos amigos e o respeito pelas diferenças em dia.  Pode ser que nem sequer suspeitem do quanto admiramos o jeito que conduzem suas vidas. Pessoas assim são aquelas que além de sorrir lindamente adoram  roubar sorrisos também.


Talvez eu seja apenas uma poetisa insana, que vê brilho em tudo. Mas que mal há em sentir que toda vida é preciosa e que admirá-las ainda que distante é uma dádiva? Que mal há em colecionar pulsar de corações? Que mal há em querer ver a aura de quem o grande mago-  responsável pela poesia da vida - nos apresentou?


Penso que  viver é isso: é desenhar, pintar, colorir a alma dos que vão passando pelo caminho. É também deixar-se pintar. É deixar-se tocar. Eu admiro quem doa sorrisos e não pede nada em troca. E admiro mais ainda quem dedica seu tempo para fazer os outros sorrirem  pelo simples prazer de saber que está colorindo a vida de alguém, ainda que seja de um estranho. 



quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A doida do "eu te amo''



A discrição era tamanha que até a professora de inglês sabia da minha paixão por ele. Aliás, a escola inteira, inclusive ele : "Spider-Man".  Era assim que secretamente o chamávamos - eu e minha melhor amiga- . Não lembro a utilidade do apelido ( era tipo um código), se todo mundo dava um sorrisinho sacana pra mim quando ele estava por perto.Ou seja, até quem não me conhecia poderia prever que a pauta das minhas conversas adolescentes era o menino da bicicletinha.  Totalmente ingênua  nossa tentativa de manter em secreto o que era do conhecimento de todos.

Novato no colégio e com estilo que incluía um pouco de radicalismo e um cavalheirismo incomum, não demorou muito para me conquistar, mesmo sem querer. Lembro bem das correntes penduradas no bolso da calça, do tênis rainha preto desgastado, dos súbitos movimentos em cima dos banquinhos com a bike. Não sei se as meninas piravam, mas eu ficava encantada.  Sonhadora, com um único beijo na bagagem e um coração ingênuo nem sabia ao certo se queria namorar ele. Na verdade, acho que nem sabia o que era namorar. Ter 15 anos,  ser certinha e nerd tem dessas coisas.  Bom , eu acho que era nerd, já que sentava na frente , só tirava 9 e 10, adorava matemática e outras coisas que ninguém mais gostava. Aliás, na década de 90 pessoas  que se encaixavam nessa discrição eram chaamdas de CDF.

Um dia fomos apresentados por um amigo em comum.  E o que foi aquele beijinho carinhoso em minha mão?  Não bastava ser o  spider man, tinha que ser adorável também ?  Surpreendeu-me porque não imaginava que meninos que curtiam acrobacias  tivessem um lado gentleman. Ele era perfeito. Se sua essência artística era despercebida por alguns, era muito evidente para mim.  Sempre envolvido nos eventos culturais da escola, dava pra sacar que era diferente.  Ele só tinha um pequeno defeito: não ser interessado por mim.

Eis que certa tarde, sabe-se lá porque, decidi radicalizar. Logo eu que me trancava no banheiro cada vez que os colegas ameaçavam chamar spiderman na sala. Nem sei porque a gente ainda considera esses sacaninhas juvenis como amigos. Sério, eles te fazem passar vexame, principalmente se souber que você está perdidamente apaixonada pelo o cara mais estiloso da escola. Mas aquele dia não. Eu estava cansada de correr, de me esconder, de tentar negar, de ser uma conhecida apenas. Comprei passagem direta para Micolândia, mas não me arrependi. Gostei tanto que até hoje não achei a saída desse lugar.

De repente estava apenas eu, ele e uma sala vazia. Sentei na mesinha, respirei fundo, olhei em seus olhos e  só voltei a respirar uns 5 minutos depois.Porque a essa altura já estava provavelmente trancada no banheiro. Um lugar nada agradável para quem necessita de ar  puro. Nem preciso dizer que não deixei ele falar, que o metralhei com palavras cuidadosamente ensaiadas na noite anterior. Não preciso dizer  que antes da “corrida de São Silvestre” tudo o que eu estava sentindo e que ele e a escola inteira já sabia foi escancarado. Não era uma novidade, mas foi dito dessa vez por mim, a única  pessoa com propriedade e direito para falar aquilo para ele.

Não me recordo bem tudo que disse, mas jamais esqueci a parte que realmente importava e que não precisou ser decorada. Não sei o que spider man sentiu naquele instante e  se pensou nisso depois. Não sei se ele gostaria de ter dito algo, ou se acabei fazendo um favor a ele por fugir. Mas eu daria tudo pra saber o que ele, o menino das manobras radicais, sentiu no exato momento que finalizei o discurso com  “eu amo você”. Tudo bem, não era a Beyonce que estava ali na frente dele, mas a garota que sentava na primeira carteira, que não matava aula, que fazia poemas e que se trancava no banheiro para fugir das próprias emoções.

Eu poderia não ter a cara da Megan Fox e  habilidade nenhuma pra flertar, o que não mudou com o tempo, mas eu amava genuinamente o carinha da sala ao lado. Rompi as barreiras da covardia, conquistei um mico, mas entrei para a história do colégio e da vida dele. Porque querendo ele ou não, ao traçar a sua linha do tempo, lá no ano de 1999, vai ter registrado o episódio da doida do “eu te amo.” Hoje essa história me rende boas risadas e lembranças de como o colégio é um lugar especial, onde vamos viver grandes emoções.

 Agora eu entendo, professora Cleomare o chamava de Spider Man, porque além dele ser o homem aranha  da escola, ela queria que eu fosse mais discreta ao falar da minha paixão. Afinal, todo mundo sabia quem era o Rafael da oitava série. Sabe os sacaninhas dos meus amigos? Eles não queriam apenas me fazer passar vexame na frente do garoto que gostava, mas queriam me dar a chance de arriscar, de me declarar e não ficar somente imaginando o que poderia acontecer. É por isso que  a época do colégio faz tanta falta.


Quatorze  anos depois eu encontro Spider Man advinha fazendo o que ? Ahan, com sua bick, subindo nos banquinhos da orla da cidade  numa noite de sábado. Agora um doce para o palpite certo sobre minha reação. Se você pensou “ aposto que ela foi lá e falou com ele” , posso até te dar o doce, mas lamento você errou.  Agora,  se você imaginou que eu quis sair correndo naquele momento , parabéns você sacou que a gente vai para a faculdade, mas o colégio permanece em nós. Não sei se o verei novamente porque ele mora em outro lugar onde  tem crescido muito com esse lance de bicicletinha (bmx). Além de ser homem aranha é também dançarino e tem unido bem o útil com o agradável. Que maravilha né.

Sabe o que é mais incrível ? É que na noite anterior a que o vi , tinha achado meu diário antigo e lido o episódio da doida do eu te amo com uma amiga que dormiu na minha casa. E no dia seguinte, quando a gente já tinha desistido de fazer o vídeo arte para a faculdade por motivos de “crise criativa e de percepção poética de uma situação qualquer na rua” eis que surge spiderman  subindo nos  bancos ao nosso redor como fazia na escola. O vídeo arte não foi sobre aquele momento, mas teria sido perfeito se fosse capaz de capitar a poesia que acontecia naquele instante.


A primeira declaração de amor (única do gênero) . Cheiro de saudade. Amigos sacanas. Professora conselheira. Diário antigo. Fugas emotivas. Bilhetinhos secretos. Amor juvenil. Quanta lembrança boa cabe em uma única cena. E eu ali apenas contemplando spider man e seu talento , pedindo aos deuses que me tornasse invisível naquele momento, porque com certeza tava na cara que eu estava procurando um buraco para me esconder . Algumas coisas nunca mudam. Alguém especial será sempre especial ainda que o sentimento se transforme e quem costuma fugir das próprias emoções vai desejar ter sempre um banheiro por perto, caso precise se refugiar e recuperar o fôlego.















sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013


Falar o que não se sente e fazer o outro acreditar que é verdade deveria ser considerado uma agressão e não apenas mentira.  Mais que isso, poderia ser encarado como uma violência. Todos temem o perigo das ruas, mas ninguém se protege das ameaças negligenciadas que destroem almas. O mundo está cheio de predadores. Aquele tipo de pessoa que pode até não ser capaz de levantar a mão para ferir fisicamente, mas que é frio o suficiente para deixar marcas profundas na vida emocional de alguém.

Se é patológico ou não, é um caso para psicologia investigar, mas que é real, ah isso é.   Ninguém ensina a defesa contra a arte da perversidade  praticada por essas criaturas que se julgam tão humanas. Envolver  pessoas em uma esfera falsa de sentimentos  de maneira a manipular suas ações  não só é repugnante como doentio.  Não é divertido simular emoções quando se entende que há um coração cheio de expectativa em jogo.

Há motivos para orgulhar-se da soberania humana se os homens são tão hostis com seus semelhantes? Faz sentindo conquistar um sorriso para que posteriormente seja substituído por lágrimas? Tamanha sagacidade para atrair parece não ser a mesma quando tais indivíduos são desmascarados. São tão pouco inteligentes em  defesa de si mesmos que nem imaginam o quanto estão sendo patéticos. Gente assim se julga tão esperta que não se dá conta do quão ridícula é.

No fundo, essas pessoas nem são  tão espertas, fingem, mentem e enganam porque são incapazes de convencer com a verdade , porque na verdade são uma grande mentira. Vivem para destruir sonhos porque não conseguem sequer sonhar. Gente assim nem deveria ser considerado gente, mas uma espécie a parte.
E desses abusos emocionais quem nos protege? Quem nos ensina a reconhecer, a identificar na multidão o perigo eminente ? Dos falsos sorrisos, das falsas promessas, dos amor enganoso, das mentiras ensaiadas, quem irá nos defender ? Não, creio que  não haja medidas preventivas para isso, até porque acabaríamos paranóicos , suspeitando de todo os bons e genuínos gestos de alguns. .  

Só espero que por causa dessas pessoas, um dia, não atinjamos um nível de desconfiança que nos torne frios a ponto de não acreditar mais no poder dos valores imperecíveis como respeito, consideração, amizade e acima de tudo amor, amor ao semelhante e a si mesmo.

sábado, 12 de janeiro de 2013


O sorriso mais lindo do mundo 



De repente você elege um sorriso. Aquele será seu para vida toda. Um sorriso meio torto, precedido por olhos de gotinha. Gotinhas azuis que poderiam muito bem ser verdes, pretas, não importa. Sorriso que se completa com covinhas. E o sorriso tão lindo e atrevido abre seu coração e acomoda-se porque corações infantis são abrigos.

Sabe por que gosto de sorrisos? Porque eles não morrem. Porque podem ser nossos sem consentimento. Desconfio que já sabia disso quando criança. Abriguei tantos e tantos quanto pude! Mas o dele era especial. Desses que revelam a alma. Desses que arrancam suspiros.

O menino do sorriso torto é Corey Haim. O meu pequeno príncipe. O meu garoto perdido. E antes que você termine de sorrir vou alertando: Dá licença que o sonho é meu? Corey representa uma geração de crianças que não precisava de muito pra ser feliz. Sessão da tarde depois da escola? Ah tá tranquilo então!
Revendo clássicos dos anos 80 sempre chego a mesma conclusão: Corey não atuava, ele se divertia. Acho que é isso que sempre me encantou nele. Ele gostava do que fazia e fazia muito bem. Sei disso porque eu entendia o seu sorriso. E ele me dizia que essa era a sua droga. E o fim disso também lhe levaria a outras drogas, infelizmente.

Aquele sorriso era o meu ópio infantil. Era o portal para o castelo que o mundo não me dava. Era predestinado a me pertencer. Tudo que consegui juntar dele na época foi uma fotinha dessas revistas adolescentes estilo capricho. Tempos difíceis esses que a internet não era pop. Ainda bem que foi só uma. Nunca fui dessas garotas que colecionavam álbuns de seus ídolos. Sempre fui chegada a uma intimidade. Ele já era meu. Não tinha que ficar agindo como uma fã. Rá!

Eu acredito em sorriso surreal porque tive a sorte de ver um. Sei que ele era especial. Quase 25 anos se passaram e ainda não vi um sorriso torto e lindo ao mesmo tempo. Era uma exclusividade do Haim. Nem Freud explica minhas obcessões mirins. Crianças costumam ver mágica onde adultos não veem. Não era só o rostinho lindo, era a boca. Não era só a boca, era um sorriso. Não era só um sorriso, mas um código, um sinal.

Foi com ele que aprendi a captar sorrisos, decifrá-los e a abrigá-los. Foi com o Corey que descobri que o sorriso tem poder. Uma menina apenas, nem 10 anos completos e já sabia eternizar almas em mim.

Espero que haja sorrisos seus em outro lugar . Espero que seu sorriso não tenha se apagado eternamente. Espero que não exista apenas uma possibilidade de encontro. Espero que a vida não seja só o começo de um fim. Enfim espero que existam outros mundos e com eles outras chances de meu sorriso encontrar o seu.